Civilização e Álcool

 


“Não havia civilização sem intoxicação alcoólica”

  Edward Slingerland, filósofo.


O álcool teve um papel-chave, a par com outras tecnologias culturais, como a religião, na transição de sociedades pequenas para grandes. O álcool e a bebedeira criaram a Humanidade. Tudo começou com os macacos que desceram das árvores para apanharem os frutos apodrecidos que já estavam a fermentar e punham-nos zonzos. A necessidade de nos embriagarmos levou à produção de cereais, à agricultura. Foi o álcool que contribuiu grandemente para a socialização e avanços da Humanidade. Para o filósofo Edward Slingerland a necessidade da Humanidade de se intoxicar com álcool não é um erro evolucionário. Nas raras culturas onde não é produzido, é substituído por outras substâncias. A embriaguez trouxe benefícios à espécie humana, desde o fácil acumular e transportar calorias para trabalhar, passando pelo aumento da criatividade, o alívio do stress, a criação de laços de confiança, momentâneo aumento da felicidade, coragem para lutar e fazer com que tribos de primatas confiassem em estranhos. Há pelo menos 13 mil anos que produzimos consistentemente álcool para nos embebedarmos. O Cristianismo é uma religião que se funde no álcool, Cristo fez o milagre do vinho, e Ele próprio é vinho que se dá a beber. Na História verificamos que os acordos só se celebravam entre homens intoxicados. A palavra de bêbados vinha de corações sinceros: em IV a.C. a China só assinava tratados de paz assim; o Egipto celebrava a salvação da Humanidade porque o deus Hathor tinha sido enganado a beber cerveja em vez de sangue humano; os gregos e os romanos tinham deuses do vinho, Dionísio e Baco; os vikings tinham Odin, que significava “o bêbado”, e consideravam o álcool a própria autoridade e sabedoria.

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